Novo livro de PJ Ribeiro a ser lançado no dia 12 de setembro de 2013 - na Chácara D. Catarina - em Cataguases - MG. Vejam alguns comentários críticos antes mesmo do evento:
O SENTIDO DO NONSENSE DAS
HISTORINHAS DE GENTE
GRANDE DE PJ RIBEIRO
As
três Historinhas de gente grande componentes
do novo livro de PJ Ribeiro estão muito além de se prestarem à leitura ingênua
para deleite de adultos ou leitores infanto-juvenis remanescentes do público
nonsense de Lewis Carroll ou Edward Lear.
Se
Carroll cunhou neologismos em função de cores e sons, PJ Ribeiro, ao contrário,
cria situações realistas, sob o cadiz humorístico, metafórico e paradoxal que
abeira mesmo o absurdo, quase sempre deliciosamente incômodas, em que o
nonsense, pelo excesso de sentido, remete o leitor a um confronto de
verossimilhança com situações similares em seu cotidiano, por analogia ou por
aproximação, uma vez já existir ideias cristalizadas predispostas na ideia
mesma nonsense original.
Os
desfechos das Historinhas desenvolvem significados de atitudes reflexivas em
relação à linguagem de modo a tornar o nonsense palatável socialmente:
-
em O cavalo amarelo, o Sol derretido no animal mamífero doméstico, remete a
lendas, mitos, corcéis alados, donde ser até razoável a ideia de similitude, no
desfecho, com o seu desaparecimento em função do surgimento do “primeiro balão
no céu”. Há, implícita, uma associação com as cores velozes do cavalo, que
“corria mais ainda com medo de perder sua cor primitiva!, com a ideia de o
mesmo tornar-se um balão.
-
em Rato-herói, um camundongo kafkiano do tipo espanta solidão e amigo,
solidário e incrivelmente presente, capaz de pensar o que fazer para alegrar
seu dono, mas não de ter uma linguagem capaz de se comunicar com ele numa
linguagem inteligível entre ambos.
-
em O homem, o gambá e a moça, além de metaforizar a bota do homem como uma
tromba de elefante e surrealmente como “um passarinho com chapéu na cabeça”, ao
depararem-se mutuamente, gambá e moça desmaiam, evocando, de imediato, a
pergunta: por quê? Medo ou asco? Estranhamento ou nojo? O que, de qualquer
modo, estabelece um absurdo, cuja reflexão, diria Jean Lecercle, seria,
positivamente, no caso, “hostil à tradição da hermenêutica”, porque “os textos
nonsense imitam as atitudes dos críticos literários e filósofos, somente de um
modo excessivo e subversivo.”
O
Cavalo amarelo, p.ex., tem início como uma afirmação, ao contrário da do tom
ficcional de Era uma vez, de alguma coisa irreal ou realmente absurda, mas parte de um ser identificável por qualquer
humano e em qualquer situação, uma vez não ser difícil se deparar, no mundo
animal, com um cavalo amarelo. O que o torna inusitado é carregar “uma crina
grená enrolada no pescoço”, de dar “um berro tão grande” que “espantava os
outros bichos” (considerando que cavalo não berra) e o fato de que, de tão
amarelo, “resplandecia”. Eis o que caracteriza, nessa Historinha de gente
grande, a “claridade secreta” aludida por Cecília Meireles, o que causa o
encantamento da perplexidade, o que institui a ludicidade.
Especialista
no assunto, Myriam Ávila é axial em apontar que a especificidade do nonsense
“reside em algo que deixa o leitor suspenso entre o riso e a perplexidade,
entre a estranheza e a identificação, como se aquilo ao mesmo tempo lhe
dissesse respeito e não dissesse respeito a coisa alguma”, uma vez que “é
precisamente a ausência de um ponto de repouso, a instabilidade e a instauração
da dúvida que constituem o núcleo do nonsense”, di-lo em seu imprescindível
Rima e solução: a poesia nonsense de Lewis Carroll e Edward Lear (1996,pp.203/86).
As
três Historinhas de gente grande de
PJ Ribeiro remetem também à ilusão referencial aludida por Roland Barthes,
quando este afirma (apud Compagnon em O
demônio da teoria, 1999, p.117):
O realismo não é nunca senão um
código de significação que procura fazer-se passar por natural, pontuando a narrativa
de elementos que aparentemente lhe escapam: insignificantes, eles ocultam a
onipresença do código, enganam o leitor sobre a autoridade do texto mimético,
ou pedem sua cumplicidade para a figuração do mundo. A ilusão referencial,
dissimulando a convenção e o arbitrário, é ainda um caso de naturalização do
signo. Pois o referente não tem realidade, ele é produzido pela linguagem e não
dado antes da linguagem.
Em qualquer uma das Historinhas...,
além de proeminentemente humanas, e de induzirem a imaginação leitoral a criar
relações com a realidade de cada um em seu cotidiano de vivências – ainda,
fique claro, que não seja esta a intenção precípua do autor, senão a de
divertir, de oferecer material para a leitura em si mesma, esta, por sua vez,
leva inexoravelmente à reflexão – existe, sim, o leitor poderá observar, a
questão da verossimilhança como latente em seu conteúdo surpreendente motivador.
Segundo Wellek e Warren (2003, p.269):
(...) a verossimilhança do pormenor é
um meio de criar a ilusão, mas usa-se muitas vezes, como isca para conduzir o
leitor a uma situação improvável ou incrível que encerra “verdade real” num
outro sentido, mais profundo do que circunstancial. (...) a distinção não deve
ser estabelecida entre realidade e ilusão, mas entre diferentes concepções da
realidade, entre diferentes modos de ilusão.
É preciso destacar as ilustrações de Altamir Soares, os
efeitos plásticos de Natália Tinoco e o projeto editorial de Joaquim Branco
como valores semiótico-visuais do livro.
Bibliografia básica
ALMEIDA, Nadja
Karoliny Lucas de. Literatura e
realidade: ensaio sobre Vocação Animal de Herberto Helder. Revista online
de Literatura e Linguística Ano I – Nº 1 ( 416-424) – ISS 1982-6850
AMARANTE, Dirce do. Literatura nonsense: um gênero para
crianças, mas só para crianças? WWW.culturainfancia.com.br/layout_portal2/index.php?option=com_content&view=article&id=348:literatura-nonsense-um-genero-para-crianças-mas-para-cri...
ÁVILA, Myriam. Rima e solução: a poesia nonsense de Lewis
Carroll e Edward Lear. São Paulo: AnnaBlume, 1996.
COMPAGNON , Antoine. O
demônio da teoria. Belo Horizonte: Editora
da UFMG, 1999.
MAIA, Ana Filipa.
Textos nonsense. Diglitmedia.blogtspot.com.br/2007_04_01_archive.html
MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
WELLEK, Rene e WARREN, Austin. Teoria da literatura e
metodologia dos estudos literários. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
( Comentário de Márcio Almeira)
Carta de Rita Cabral a PJ Ribeiro.
Agosto, 2013
Oi, Pedro.
Arrisquei algumas observações sobre a sua inovadora obra, mas deve dizer que fui surpreendida e gostei especialmente da história O cavalo amarelo.
P. J. Ribeiro apresenta uma nova forma de fazer poesia acrescentando o elemento enigma prosa. O non-sense não é nem um pouco diferente das crônicas de Nárnia. Porém, nesta obra, os símbolos escondem a moral da história.
Embora o título já indique que não se trata de um livro infantil o leitor é levado a entendê-lo assim, seduzido pelo formato, pela ilustração e pelo papel utilizado na composição.
O leitor sabe que nas histórias feitas para gente pequena vai encontrar aventuras, tesouros, os desprezíveis vilões, ratos encantados, princesas, reis e finalmente, o final feliz com a lição para nunca mais esquecer.
Por outro lado, em historinhas de gente grande também encontramos a fantástica interação do homem com os animais, porém quase nunca o final é feliz. persistem as indagações e as inquietações humanas metamorfoseando em pulgas gigantes.
Este mundo é o mundo do poeta onde o cavalo tem o pescoço enfeitado pela echarpe grená e ganha e perde o dourado do sol.
Assim o leitor é instigado a pensar usando o seu próprio conhecimento para interpretar a obra.
Abro um parêntese par comentar a ilustração do livro. A cor forte é a característica marcante do trabalho do Altamir e, ao ilustrar este trabalho, nos lembra que o livro conta histórias para gente grande, mesclando os traços dos desenhos infantis.
Só me resta agradecer e parabenizá-lo por mais esse lindo presente que você nos dá.
Abraços.
Rita Cabral.
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